Trecho do Livro "O Caso da Mariposa Negra" do Autor Marcos Martins

 

"(...)- Olha bem pra minha cara e não faz a louca, não, porque você bem sabe que só pode ter sido por homofobia, Caio! A Rodolfo era mona... Tudo bem que só ela achava que conseguia esconder de alguém, né, mas cê sabe que todo mundo falava do jeitinho dela. Além do mais, tem aquele rumor de ter acontecido o mesmo com uma outra monyra que morava aqui no prédio, lá no primeiro andar. Lembra aquele dia que a genta tava xanando uma tatcha no quarto daquele bofe seu amigo, e ele comentou que tinha ouvido essa história?

- Tô ligado. Acho que era Maicon ou Nilson o nome do maluco que falaram que foi assassinado, não era? Ah, mano, mas pra mim não passa de boato, cara... É igual aquela história do viado que se suicidou no terceiro andar do M2 por causa de bullying... Mano, não tem registro nenhum disso.

- Em primeiro lugar, era Nícolas o nome dele! E bem menininha, inclusive... Que Deus a tenha. Depois, não é nada boato, eu bem acredito nisso. Só quem passa na pele pelo que a gente passa é que sabe o que é todo dia levar pedrada e tapa na cara, nem que seja por palavras ou olhares. Você nunca vai saber o que é isso . O nome disso é privilégio!

- Ah, não, Val, vai começar com esse mimimi de privilégio, não, mano... Tu melhor que ninguém sabe que eu sou super de boa com gays, se não fosse nem tava aqui com tu, mano. Sabe que te considero pacas, até mais que qualquer amigo hétero meu... Na verdade, pra mim nem existe essa divisão, mano.

- Ai, ai, Caio, nem falo nada... Eu sei que você me considera, e é recíproco.

- Então, cara, para de noia, mano, é só murmúrio, na moral, até porque tem um monte de histórias diferentes sobre esse Rodolfo aí. Já até ouvi que ele largou tudo e voltou pra casa, outros já falam que ele foi morar na rua, que em casa os pais não aceitavam o jeito dele, e tem esses mais noiados aí, falando que ele foi assassinado. Aí tu decide qual história que tu quer comprar, mano. Não dá pra levar ao pé da letra essas coisas, não! Fica mais sussa, Val. Tira essas noia da cabeça, senão tu vai pirar, mano.

- É, mas agora com a morte dele, me pergunto mesmo o que tem de maluquice em pensar que os dois casos tenham relação... Começa a fazer sentido essa ideia de que o assassino tá atrás de nós, que botamos a cara no sol todos os dias, sem medo de ser quem a gente é e dizer o que a gente pensa!

- Cara, vou bater nessa mesma tecla, isso é viagem da tua cabeça, Val. Vocês gays também, sei lá, parece que têm uma síndrome de perseguição... É impressionante, todo mundo quer atingir vocês de alguma forma. Ah, e tem aquela outra parada que eu detesto, todo o mundo é viado, né!

- Escuta aqui, presta atenção no jeito que você fala... Vai começar agora a me atacar, é? Que dia que você já me viu falando que todo mundo é viado? Eu nunca achei isso.. Se eu tô falando dessas duas aí, é porque é certeza, não é achismo, não. Como se vocês mesmos não ficassem falando delas pelos corredores. E outra, cê sabe muito bem que eu não tenho nenhuma dessas indacas aí, não!

- Inda o quê? Ih, olha lá, não para de falar nesses códigos.

- Ai, uó... Me deixa! É indaca, conversa... Até parece, mora há tanto tempo comigo, e ainda não se acostumou com o Pajubá? Ah, para...

- Ué, mano, é difícil, fico boiando na maioria das vezes.

- Claro, né, é colorê penkas! Mas aqui, sabe o que eu acho engraçado nisso tudo? Você vive falando que a gente fica enviadando todo mundo, mas é bom lembrar também que tem muitos héteros por aí que realmente deveriam ficar com medo de um ataque voltado aos viados!

- Que tu quis dizer com isso, Val?

- Eu? Nadinha, amado. Cala-te, boca... É melhor falarmos de outro assunto, né, porque, se sobre isso, que é tão sério, você nem se comove, eu vou é mexer meus pauzinhos por mim mesmo, entendeu... Não quero ser a próxima vítima! (...)"

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