Ler&Criar Livros

      "Semana passada eu estava sozinha em casa e alguém bateu palmas.  Sempre acho desagradável quando isso acontece e naquele dia não foi diferente.  Fui até a porta desejando não ter ido e ainda hoje gostaria que aquilo não tivesse acontecido. No entanto quando eu falei e a mulher respondeu tive o primeiro alívio. A pessoa realmente estava aqui e eu não estava falando para o vazio e ela entendeu que era comigo que deveria falar, que naquele momento eu, uma pessoa com deficiência visual era responsável por atender quem chegasse ao nosso portão.  Por esses motivos e por alguns outros que ainda não sei descrever ganhei confiança para prosseguir a conversa. Perguntei o que precisava, guardando seu nome e a região onde ela morava para que minha mãe a procurasse quando retornasse.  Voltei pra dentro de casa feliz e satisfeita comigo mesma. Há quem diga que crescer é muito ruim, e é mesmo. Especialmente quando você é uma menina cega, autista, pouco resilie...

A autobiografia é um tipo de gênero literário que constitui uma narrativa de caráter pessoal e o seu traço mais significativo é a inserção do próprio escritor como personagem principal.  Escrever uma autobiografia apresenta um resgate da memória do autor, incluindo ou não toques de ficção. Por isso, as autobiografias podem assumir diversos formatos como diários, memórias, poemas, músicas, roteiros, cartas, entre outros.  Normalmente a narração é feita na primeira pessoa do singular e aborda questões íntimas e pessoais. Também costumam ser escritas no tempo presente.  No livro "Textos do meu Contexto", a Autora Andressa Batista faz um tipo de diário de sua vida, reunindo uma coletânea de postagens em redes sociais, além de alguns poemas.  Mesmo inconscientemente, ela realizou o sonho de escrever a sua autobiografia, mas de uma forma indireta. Apesar de dizer que não há tantos fatos interessantes em sua vida, seus pensamentos são sim muito válidos para leitura e reflex...

       Cega de nascença e com o diagnóstico de autismo recém descoberto, Andressa Batista quer levar ao mundo os seus pensamentos e combater o capacitismo. A Autora de "Textos do meu Contexto" veio neste bate papo falar um pouco mais sobre ela e seu livro. 1. Quando foi que você começou a escrever textos como estas reflexões, críticas, etc.?      Eu sempre escrevi textos, mas nunca pensamentos tão profundos. Isso só passou a acontecer quando, entre 2014 e 2015,  passei a ver o Facebook como um excelente espaço para isso.      Nesta época, eu já entendia que o Facebook poderia ser muitas coisas, inclusive uma rede social séria, onde eu poderia ler notícias e informações, além de pensamentos profundos. E se eu lia esses pensamentos, poderia escrevê-los também. Eu achava interessante a variedade de pessoas com as quais eu poderia compartilhar meus escritos. Poderia ser minha mãe ao mesmo tempo em que também poderia ser uma de minha...

  Quando li a nota do editor no livro da Andressa, achei que ele poderia estar exagerando um pouco, mas não. O livro é literalmente um diário, inclusive tem as datas em que os textos foram escritos.  É uma impressão sobre tudo e todos, com alguns poemas e desabafos. Uma mistura de total sinceridade com um toque de leveza, a Autora permeia vários assuntos durante o livro.  Ela tem opinião formada sobre vários assuntos e não tem medo de expor o seu ponto de vista. Em resumo, consegue nos mostrar vários temas sob uma nova perspectiva.  Vou dar um exemplo sobre algo que ela me despertou a pensar e é muito pertinente ao universo literário: Quantas pessoas vocês conhecem que gostam de ler? E quando vocês eram crianças, quantas pessoas vocês conheciam que gostavam de ler? Neste ponto ela quer mostrar que não são os jovens que não gostam, e sim, somente uma parcela da população é que é leitora. O desinteresse na leitura não é de hoje, é de sempre.  Este é um dos assunto...