Trecho do ebook "Aztlan: O Deus Dourado"

 

"Quanah constantemente insistia que ele precisava compreender que os Deuses também tinham seus problemas.

— Existem muitos Deuses no Céu, todos muito poderosos e justos. Mas os que estão aqui são como crianças ou jovens teimosos. Eles estão aprendendo a viver, guerrear e governar. Nosso mundo é a escola deles.

Tafhira não possuía a mínima consideração. Ouvia toda aquela bobagem calado, de expressão fechada. Então o povo de Aztlan trabalhava, sofria, morria só porque na verdade os Deuses eram um bando de crianças mimadas? Que idiotice!

— Nosso mundo é muito diferente dos mundos onde eles habitam. Aqui, abaixo das estrelas, todos eles acabam ficando um tanto alterados. Peço que busque uma forma de perdoar e entender o Divino Terzler.

Realmente, coitado daquele sanguinário louro; que vida desgraçada ele tinha naquele palácio coberto de riquezas.

— Os Deuses Eternos não descem das estrelas para não entrar na roda do tempo e da vida do nosso mundo. Mas eles enviam seus filhos. Os Regentes Estelares vêm até o nosso mundo para aprender conosco e não o contrário. Ouvia porque não tinha como evitar. E com o antebraço quebrado não havia nem como pensar em lutar e fugir. Pior é que ele se tornara uma curiosidade. Sua presença causava alvoroço até ali naqueles porões. Sentia-se uma celebridade de feira, como algum malabarista ou mágico que fazia truques com macacos treinados. Servos, nobres e até alguns guardas curiosos, apareciam para vê-lo, mesmo que à distância, disfarçadamente. Saíam apontando e cochichando e então outros vinham, numa sucessão que não acabava nunca. Todos eles interessados em ver o humano que derrotara o Deus. O tédio era constante. Contava os dias enfiando gravetos de palha entre as vigas da armação da cama. Todo o tempo, ele só queria saber o que virara sua vida de ponta cabeça de um dia para o outro. Havia totalizado vinte e três hastes de palha enfileiradas até o dia em que Quanah, finalmente, trouxe informação e alguma explicação.