Entrevista com a Autora Andressa Batista

 



    Cega de nascença e com o diagnóstico de autismo recém descoberto, Andressa Batista quer levar ao mundo os seus pensamentos e combater o capacitismo.

A Autora de "Textos do meu Contexto" veio neste bate papo falar um pouco mais sobre ela e seu livro.


1. Quando foi que você começou a escrever textos como estas reflexões, críticas, etc.?

    Eu sempre escrevi textos, mas nunca pensamentos tão profundos. Isso só passou a acontecer quando, entre 2014 e 2015,  passei a ver o Facebook como um excelente espaço para isso.

    Nesta época, eu já entendia que o Facebook poderia ser muitas coisas, inclusive uma rede social séria, onde eu poderia ler notícias e informações, além de pensamentos profundos. E se eu lia esses pensamentos, poderia escrevê-los também. Eu achava interessante a variedade de pessoas com as quais eu poderia compartilhar meus escritos. Poderia ser minha mãe ao mesmo tempo em que também poderia ser uma de minhas professoras.


 2. Foi fácil conseguir uma adaptação (app, equipamento, etc) para escrever?

    Ao mesmo tempo em que os computadores e celulares foram se popularizando, também tornou-se mais fácil acessar programas leitores de telas que permitem a interação de pessoas com deficiência visual a esses equipamentos.

    Hoje tanto o Windows como as plataformas de celulares já vem com seus leitores de telas pré-configurados, bastando que a pessoa cega vá com a ajuda de alguém até a acessibilidade do aparelho ou saiba que atalho aciona a acessibilidade daquele dispositivo.

    E se a pessoa cega usar um computador com Windows ou celular com Android mas não gostar dos leitores de telas nativos desses sistemas, pode baixar gratuitamente outros programas. É o  que eu faço no computador usando um leitor chamado NVDA.


 3. “Textos do meu Contexto” foi o seu primeiro livro publicado?

    Sim, meu primeiro livro.


 4. Tem algum projeto futuro para publicação?

    Pode ser que eu publique outro livro de pensamentos caso eu tenha daqui em diante uma vida mais interessante. Ou caso eu receba feedbacks que me proporcionem novas reflexões que eu não consiga deixar de escrever ou catalogar.

 

5. Foi difícil abrir os seus pensamentos e sentimentos para o público? É que o seu livro se assemelha a um diário.

     Não vou negar que houve muitas coisas que eu não escrevi. Em parte porque eu não consegui fazer virarem palavras na minha cabeça, mas em parte também porque eu não sabia como tudo o que eu disse poderia ser lido. No entanto, foi relativamente fácil escrever as coisas que escrevi. Eu sempre senti que pensava mais do que as pessoas supunham que alguém com deficiência visual e autismo poderia dizer, e isso em certas circunstâncias é quase enlouquecedor.

    Então, eu tinha que escrever. E em alguns casos, tive que repetir coisas já escritas porque sentia que só colocar nas redes sociais não havia sido o suficiente pra eu expressar tudo que eu desejava.

 

 6. O que a cidade que você mora influencia em sua escrita?

    Eu moro numa cidade pequena, quase nunca saio de casa e embora muitas pessoas tenham tido conhecimento sobre minha existência, devido ao fato de que meu pai vendeu muitas cópias do meu livro, eu ainda assim não sou muito conhecida, além de ser talvez um ser exótico.

    Mas a verdade é que já morei em cidade grande, onde conheci muitas pessoas cegas, e agora que vivo aqui longe delas, sinto que exploro mais o meu potencial. Por não ser cobrada a seguir o ritmo de outras pessoas, faço o que eu quero, o que significa explorar mais atividades intelectuais como ler e escrever.

 

7. Soube que você canta também... pretende seguir carreira no futuro?

    Eu comecei a cantar nas redes sociais em 2018 mas dei uma diminuída durante a pandemia. Voltei a gravar com mais frequência recentemente, e uma das coisas mais legais de cantar é perceber como as pessoas gostam de ouvir. A música é uma arte que todas as pessoas gostam, além de trazer pra elas lembranças de momentos importantes. Mas a verdade é que a música está mais para mim como um hobby. Algo que eu posso usar pra explorar uma coisa que faço relativamente bem ou pra atrair pessoas pro meu mundo. Mas só isso mesmo. Não me imagino ensaiando músicas mais do que algumas horas por mês ou semana, muito menos sendo observada tão de perto em um show, por exemplo.


Agradeço ao tempo disponibilizado pela Autora nesta entrevista ;)


Para quem ainda não segue Andressa Batista, aqui está as redes sociais dela: https://m.facebook.com/eucegaeautista/posts/1916351411941893/

Instagram: @eucegaeautista

E você já leu o livro da Andressa? "Textos do meu Contexto" está disponível em ebook e impresso, seguem os links:

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Assista ao vídeo do livro no meu Canal: https://www.youtube.com/watch?v=Pm0HSG6PkJA


 

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