Entrevista com o Autor Marcos Martins

 


Dono de um bom humor contagiante, o Autor Marcos Martins de “O Caso da Mariposa Negra” nos concedeu uma entrevista:

 

ENTREVISTA COM O AUTOR:

 

1. Você estudou na Rural. Como foi escrever uma história ambientada em um lugar tão conhecido por você?

 

Foi uma experiência ímpar, pois ter vivido a “vida ruralina” de modo intenso durante a graduação e o Mestrado (afinal, foram longos oito anos), passando por todos os sabores e dissabores daquele espaço, especialmente por ter residido no alojamento masculino (que, basicamente, ao ser antropomorfizado, é um personagem marcante do romance), ter sido bolsista do bandejão, onde eu literalmente fazia todas as minhas refeições, e ter passeado por todos os rincões do belíssimo campus-sede em Seropédica, certamente me propicia toda a propriedade para falar com precisão, ainda que através do meu olhar subjetivo de escritor, a peculiaridade, e por que não, grandiosidade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

 

2. Aquela segregação que você menciona no início da história, existe na realidade também?

 

Neste meu romance, misturo muito a realidade vivenciada com a ficção, a fantasia, inclusive para brincar com os limites entre a verossimilhança e a inverossimilhança. O enredo em si já é bastante pesado, por ter como mote os assassinatos e a figura da serial killer (ou do serial killer?), então eu quis passar outros aspectos da “vida ruralina”, tanto bons quanto ruins, para trazer um pouco mais não só de afetividade da narrativa para com o leitor, fazendo-o se aproximar ainda mais da história, seja pela compaixão, empatia ou demais sentimentos que nos fazem humanos, principalmente quando nos deparamos com a dor do próximo, mas também das críticas sociais que precisam ser expostas sempre, para que mudanças possam acontecer na realidade, pois sabemos que a arte imita a vida. Então, depois de toda essa divagação, posso dizer que sim, a segregação fez (e ainda faz) parte do contexto ruralino, já que lá temos apenas uma amostra de tudo o que existe fora dos muros invisíveis da Universidade, porém pode ocorrer mais intensamente por ali devido a ser um espaço mais “concentrado”, onde pessoas de todo o Brasil (e até do exterior) estão constantemente juntos, convivendo e compartilhando suas culturas, visões de mundo e valores diferentes. Por tudo isso, reproduzir preconceitos, opressões e outras problemáticas estruturais também faz parte desse ambiente, assim como a resistência, enfrentamento e luta pela desconstrução de tudo isso.



3. Foi difícil "passear" por vários dialetos, gírias e trejeitos na composição dos personagens? Porque existe uma diversidade cultural muito grande neles, inclusive na própria narrativa.

 

Na verdade, para mim, não. Eu sempre fui apaixonado por Linguística quando fiz Letras, e uma das vertentes que mais me encantam nessa ciência é a Sociolinguística. Especificamente sobre o Pajubá – a “língua das monas”, que, na verdade, podemos classificar como um socioleto (variante de uma língua falada por um grupo social, uma classe social ou subcultura), tive muito contato já na Rural, já que em meu círculo de amizade, meus amigos gays, travestis e outras da comunidade LGBTQIAPN+ e eu costumávamos utilizar bastante, até mesmo quando não queríamos ser compreendidos por quem não deveria compreender o que estávamos falando, era de fato muito engraçado no início, mas depois acabou se tornando até mesmo um hábito. Já quanto a demais gírias e trejeitos, não há como deixar de mencionar a influência desses meus amigos na composição das personagens, elas representam não apenas um ou outro, mas sim uma mescla de características de todos com quem tive contato por lá.

 

4. Você se inspirou em pessoas reais para construir os personagens?

 

Como mencionei anteriormente, sim. Todos os personagens têm algo ou muito de todos aqueles com quem tive contato na Rural, sejam os protagonistas ou até mesmo os antagonistas do romance. Cada um tem uma representação imagética quanto à fisionomia para mim, mas as características psicológicas são uma mistura de todos, pois não queria construir personagens planas, e sim redondas, a fim de demonstrar a complexidade que nos constitui e nos singulariza enquanto sujeitos.

5. E livros? Teve inspiração em algum (ou alguns)?

 

Com certeza! Na minha adolescência, eu amava ler os livros da Coleção Vaga-lume. Depois, já na graduação em Letras, com apenas 19 anos, embora muitas vezes sendo obrigado a trocar a leitura literária pela técnica que exigida pelo curso, eu fazia de tudo para dar um jeitinho de conseguir tempo para ler os romances, especialmente os brasileiros. Lembro-me de que logo no início da graduação, fui aprovado no processo seletivo para professor de Literatura do cursinho da própria universidade, e então, com a primeira bolsa que recebi, separei metade da quantia para comprar alguns romances na banca próxima de onde eu morava... Como meus olhos brilhavam em cada aquisição! Foi nessa época que me deparei com o escritor que mais me encantou, Machado de Assis, ao notar o modo fino com que utilizava a ironia em suas obras e sua peculiar forma de se dirigir ao leitor, características essas que inseri na obra em várias partes; não poderia, ademais, deixar de mencionar a importância de Clarice Lispector para a produção deste romance, pois a técnica do fluxo de consciência por ela utilizada constantemente em suas obras foi base para a minha. Também tenho de mencionar o caráter cômico ante o suspense e horror presentes na narrativa: eles foram inspirados na escrita de Manuel Antônio de Almeida, em seu “Memórias de um Sargento de Milícias”, com a criação do “malandro”, “pícaro”, além dos estrangeiros que não posso deixar de mencionar, como Edgar Alan Poe, Agatha Christie, Stephen King, Lovecraft e a grande Shelley. Virginia Woolf, James Joyce e tantos outros que também fizeram uso da técnica do fluxo de consciência em suas obras foram igualmente substanciais para mim.

 

6. Este é o seu primeiro livro publicado?

 

Dentro do gênero “romance”, sim, é o primeiro. Tenho também publicações em duas coletâneas advindas da premiação em concursos literários: um conto, intitulado “Aula de Português”, publicado pela Editora da Universidade Rural (Edur), e uma crônica, cujo título é “O Beijo Musical”

 

7. Tem algum projeto futuro em mente?

 

Não sei exatamente... Tenho várias “faíscas” de criatividade; sempre que surgem, eu passo um tempo pensando nessas ideias, mas as guardo em “caixinhas mentais” para que, quem sabe um dia, possa materializá-las e desenvolvê-las. Mas, no momento, estou dando mais atenção à vida acadêmica e profissional. Ainda assim, tenho medo de que a “Bruxa do M6” venha aterrorizar meus sonhos e acabe me obrigando a voltar a escrever (e, cá entre nós, sinto que isso poderá acontecer a qualquer momento!). Vamos ver o que as cartas têm a me dizer...

 

 

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