Entrevista com a Autora Katia Pinno
1)
Qual foi
sua inspiração para escrever estes contos?
O
projeto desse livro nasceu em 2013 para o Prêmio SESC de Literatura. Ele
concorreu, mas infelizmente não ganhou. Então resolvi levar o projeto adiante e
publicá-lo de forma independente.
Cada
um dos contos nasceu numa época diferente de minha vida e surgiram de
inspirações diversas. Alguns escrevi quando era bem jovem como foi o caso de
BELO e O FANTASMA LOIRO, que passaram por uma revisão e atualização para não
ficarem datados, tendo em vista a época em que foram escritos. Certas situações
já não cabiam na época atual. Eles foram inspirados em cenas que vi. No caso de
O Fantasma Loiro eu estava andando pelas ruas do Saara, que é um local no Rio
de Janeiro com ruas com várias lojas, de sobrados antigos e num deles, sentado
na soleira, estava esse rapaz, conforme eu o descrevo no conto. Achei ele
bonito, mas quando eu olhei de novo, ele tinha sumido. De imediato me veio a ideia
e a vontade de escrever uma história.
Outros
foram escritos quando fiz o curso de escrita literária com o professor André
Sampaio, que prefaciou o livro, como é o caso do À DERIVA. Esses foram
inspiração sob pressão, já que ele propunha temas para serem desenvolvidos na
aula.
Já a
maioria dos outros foi produzida para formar o livro para o Prêmio, mas tenho
uma história interessante sobre um deles. Um dia eu estava conversando com uma
vizinha que é tutora de vários cães resgatados, e ela me contava que um dia
estava tão atarefada que não teve nem
tempo de entrar em casa e se pegou trocando a roupa na varanda. Eu falei para
ela: isso dá uma história! E deu. O mais impressionante é que ela ficou
espantada, porque o que eu criei, na imaginação, tinha tudo a ver com a vida dela.
Então
é isso: o escritor é um observador que vê, em qualquer situação, uma
possibilidade e uma oportunidade de criar uma história.
2)
Você acha
que a sua formação em Psicologia ajuda a criar uma maior complexidade das
personagens?
Sim.
Com certeza. Não há como separar essas duas partes que me habitam: a psicóloga
e a escritora. A experiência dos meus vinte anos de clínica me instrumentaliza
a escolher quais falas, quais sentimentos, quais ações dos personagens destacar
e descrever para melhor caracterizá-los e delinear com precisão os seus perfis
e suas motivações.
Esse
meu conhecimento e a minha experiência em lidar com o mais profundo do ser
humano foram fundamentais para criar o perfil do personagem-ausente no conto
que dá título ao livro: À DERIVA. Esse perfil vai sendo montado no diálogo dos
personagens que estão ali, à deriva, e o que é conversado por eles vai
conduzindo o leitor a identificar o mistério que a história traz.
3)
Você é bem
ativa em projetos literários, pode falar um pouco sobre eles e como consegue
mantê-los?
Além
de escrever, adoro participar de eventos e lidar diretamente com o público
leitor. Participo de Bienais, já fiz várias no Rio de Janeiro, já fui à de São
Paulo, Volta Redonda. Vou em Feiras e Festivais de Livro/Literatura, como Poços
de Caldas (FLIPOÇOS), Resende, Cambuquira, Valença. Acredito que compartilhar
conhecimento é multiplicá-lo, e por isso, geralmente faço Oficinas Literárias
nesses eventos, levando a minha experiência como escritora para outros que
desejem trilhar esse caminho. Muitas pessoas que participaram de Oficinas que
ministrei, estão escrevendo e fazendo sucesso. Isso me deixa muito feliz.
Eu sou
uma alma inquieta e, por isso, sempre estou criando algo. Na época da pandemia participei
de eventos literários on-line e, como estava sem viajar, iniciei uma série de
Lives no meu perfil do Instagram, chamada: MULHERES QUE FAZEM ACONTECER, onde
entrevistei escritoras, empreendedoras e ativistas da área da cultura, jornalistas,
cantoras etc. Foram mais de trinta mulheres talentosas que passaram por lá. Se
tiverem curiosidade, todas as entrevistas estão salvas no meu Instagram e no
meu site.
Nesse
período também comecei a publicar meus outros textos infantis. A internet é uma
ferramenta maravilhosa. Tudo eu resolvi por lá. O ilustrador com quem fiz
vários dos meus livros me mandava as ideias pelo WhatsApp, por e-mail; fiz a
publicação de alguns por uma gráfica digital. Então tive que aprender a
utilizar muitos recursos que nem eu sabia que daria conta.
Depois
de um tempo, resolvi dar oportunidade para esses parceiros que construí ao
longo desses anos, e criei a série de Lives: PARCERIAS DE SUCESSO. Agora, em
2024, lancei também a série: TALENTOS DE PAQUETÁ, apresentando pessoas
talentosas do lugar onde moro.
Eu
tenho uma máxima: nós, escritores independentes, somos parceiros. Há espaço e
público leitor para todos, por isso não me considero concorrente de ninguém e
não vejo problema em dividir meu “palco” com outros talentos.
Só
que, como estou querendo voltar a viajar e estudar mais sobre a área de livros,
literatura e marketing, e escrever muito mais, estou dando uma pausa nas Lives.
Mais adiante vou reformulá-las e, talvez, elas retornem num único formato que
englobe todas as pessoas talentosas que eu conheço.
Como
consigo manter todos esses projetos? Eu brinco e digo: com muita cara de pau,
mas falando seriamente, eu sempre reinvisto os valores que ganho com a venda
dos meus livros. Negocio participações em estandes em troca de Oficinas,
Palestras, Rodas de Poesia, mas também faço por contrato, recebendo. Quando
quero muito viajar e participar de alguma coisa, invisto do meu próprio bolso. Sempre
considero investimento, pois sempre haverá um retorno de alguma forma. Vou às
escolas, às bibliotecas, participo da Campanha da Paixão de Ler da Secretaria
de Cultura do Rio de Janeiro. Eu faço voluntariado na Biblioteca Municipal onde
moro, conduzindo Rodas de Poesia.
Sou
apaixonada pelo que faço e acredito que espalhar esse amor e incentivar outras
pessoas a se encantarem pelos livros e pela leitura é a forma que encontrei de
fazer a diferença no mundo.
4)
Você tem
algum projeto futuro?
Em
relação a projetos de livros, sim. Tenho três projetos: um texto inédito
infantil, concluído, que irá passar por uma revisão; um livro de poesias aguardando
o resultado de um concurso e um romance que está na fase das ideias e algumas
pesquisas necessárias para o desenvolvimento da história. Na verdade, já estou
delineando o perfil das personagens, como elas estão interligadas, quais suas
motivações.
5)
O que levou
você a começar a escrever?
Eu
escrevo desde os meus doze anos de idade. Eu gosto muito de citar Clarice
Lispector para explicar minha motivação. Ela tem uma frase que é, mais ou
menos, assim: “escrevendo pelo menos eu pertencia um pouco a mim mesma”. As
palavras dela resumem esse meu sentimento em relação ao que me motivou a escrever.
6)
Você tem
outros livros publicados?
Sim.
O primeiro foi o infantil LILI, A ESTRELA DO MAR, que escrevi aos dezesseis
anos de idade, mas só ganhou forma em 2007. Com ele ganhei o primeiro lugar do
Prêmio Adolfo Aizen 2008, conferido pela União Brasileira dos Escritores do Rio
de Janeiro (UBE/RJ). LILI já está em sua segunda edição. Depois veio o SOU
MULHER que reúne crônicas e poesias e revela um pouco da nossa alma feminina,
que irá passar por uma revisão e ampliação e ganhará um novo formato. Tenho
dois Contos de Fadas: A FLOR E A FEITICEIRA, que tem um final surpreendente, onde
utilizei muito do que aprendi com a psicologia e HEITOR E O DRAGÃO que
concorreu aos Prêmios Jabuti e Biblioteca
Nacional em 2022. E os infantis: O MISTÉRIO DO POTE DE BISCOITO, cujo texto foi
ganhador do segundo lugar do Prêmio Monteiro Lobato de Contos Infantis do
SESC/DF de 2010 e UMA GUARDIÃ CHAMADA SILVINHA.
Meus
livros: LILI, A ESTRELA DO MAR e O MISTÉRIO DO POTE DE BISCOITO já estão na
Amazon, no formato ebook Kindle e Kindle Unlimited.
Amei a entrevista 👏 👏 👏
ResponderExcluirParabéns pela entrevista, e Kátia, minha querida, parabéns pelas declarações, sei que é uma ativista e defensora das 'causas literárias' e, assim como eu, enxerga na literatura uma possibilidade de conscientização de realidade e alteração de visão de mundo. Enquanto escritores somos responsáveis por esta cota social. Parabéns pelas obras e projetos.
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