Deslizamos, eu e Raul, na poça d´água que o chão tinha se tornado e chegamos encharcados a um dos ônibus. Era o dele! Inocente, ou sei lá qual outro nome que lhe tinham dado, subia as escadas do veículo. Se ele ia embora da Cidade das Músicas eu também iria! Nesse momento entendi porque estávamos nós, os moradores em situação de rua, sendo expulsos da rodoviária. Vi uma faixa em que estava escrito que a Cidade das Músicas dava as boas-vindas ao congresso de turismo musical mundial. Eu era uma das notas que desafinava nesse encontro de ilustres de todas as partes. Ser cantora miserável e, ainda por cima, das ruas não me qualificava para evento de tal porte. Tomei consciência dessa justificativa para nos apagarem do ambiente quando já me encontrava, rindo, gargalhando mesmo, dentro do bagageiro do ônibus. — Ninguém manda a gente embora de lugar nenhum. Certo, Raul? Se a gente sai é porque a gente quer. Raul lambeu as minhas mãos, num claro sinal de concordância. Um ditado diz...
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