Trecho longo do Conto "Aztlan: O Farol" de Sandra Pimenta

 

"Um corpo esquálido, recoberto de um trançado de cabelos e uma armadura improvisada com restos da nave; placas e tiras finas de metal, entrelaçadas. Empunhava uma haste de metal como lança. Tinha membros compridos e se movia recurvado, como se num bote permanente. Seus olhos vermelhos se destacavam em meio a nevasca; no entanto, o resto dele se camuflava no ambiente. Esgueirava-se por trás da neve e por dentro da névoa e friagem. Era impossível acompanhar sua aproximação. 

Um rangido o fez olhar para o lado. Uma das placas de metal caídas se moveu, justo na hora que um dos tripulantes passou perto. Era um tipo de alçapão abrindo. Ulston apontou sua arma, mas não pôde sequer mirar, quanto mais atirar. O ataque foi tão instantâneo, que se piscasse, não teria visto o que ocorrera. Surgiu um braço envolto em metal e cabelos trançados e uma mão em garra que se cravou na veste de proteção e puxou para baixo, rasgando, trazendo e rompendo, buscando o tripulante para dentro e para o fundo do buraco. A placa de metal caiu de volta com um baque agudo, cerrando a passagem. Ulston olhou assustado à volta. Podiam haver mais daqueles alçapões em meio ao entulho. Não havia como saber de onde surgiria outro ataque. 

“Capitão Zarlo! Estamos sendo atacados por uns animais que estão saindo de túneis e buracos embaixo dos restos da nave!” 

Ele queria alvejar, queria se defender e a pistola tremia enquanto tentava mirar. Porém não via nada. Fosse lá o que fosse eram muito rápidos. Queria falar o que estava acontecendo mas o comunicador era só cliques, estalos, zumbido e estática. Mantinha a sua arma apontada adiante, porém não via nada no que mirar. Quando viu, foi mais veloz do que a sua percepção."

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